
Não sei a que sabe a tua pele. Sei
que sabe bem porque a visão e o olfato também comem. Antevejo sempre um sabor
mesmo sem o alvejar com a língua. Gosto da cor da tua pele escura, tão escura
mas com nitidez suficiente para ofuscar olhos com gosto. Foram os teus olhos
verdes que me seduziram primeiro. É fácil gostar de olhos da cor da relva mas
não foi somente isso que me fascinou; o teu sorriso branco também, o esboço de
uma dentadura definitiva e limpa merecedora de se expor num qualquer anúncio de
pasta dentífrica. Um sorriso infantil quase a cair para o puro e perduravelmente
contagioso. A tua postura a caminhar descalço na praia também não me foi
indiferente; passos seguros, sem receio de pisar território que te pertence e
com vontade. É admirável sentir segurança nesses passos, apetece pisar as tuas
pegadas na areia, seguir-te, seja lá para onde fores. Quantas vezes me apeteceu
dar-te a mão, oferecer-te um sorriso, tocar-te na penugem da cara e apalpar
cada rasta do teu cabelo. Partilhar uns bafos do teu charro de erva que torna o
verde dos teus olhos num verde aguarela impossivelmente mais bonito. Excedi
dias a admirar-te e sei que te apercebeste disso, a química transportou-se no
ar pela brisa quente das Caraíbas. A inércia, talvez a convenção ou o meu papel
de turista urbano não permitiu dar uma corrida até ti. Por isso, sonhei contigo
de olhos fechados, cerrados - com tanta força - de modo a entrar na fantasia
com a maior credibilidade possível. O beijo demorou, continuou sem tempo,
molhado com confrontes de sensualidade e, de forma crescente, tornou-se num furacão
como só numa ilha daquelas poderia subsistir. Crescemos nesse vendaval,
desvendamos inúmeros pormenores nos nossos corpos ao qual não fomos
indiferentes. Fundimo-nos, senti-te dentro de mim com uma intensidade brutal e
crua e não tive medo de gritar. O teu corpo negro reluzia à lua, senti cada singularidade
do teu peito modelado e terminei extasiada com o encanto do teu olhar: doce, firme,
sereno e com bordas de frieza. Encantou-me tudo como se fosse a primeira vez a estar
com um homem. Este momento ficou guardado num postal fartado de mar quente e
areia branca. Ainda sinto a areia colada ao meu corpo transpirado, contudo prossigo
sedenta: Ainda não sei a que sabe a tua pele.
M.L.M.