domingo, 6 de março de 2011

Francisco, 34 anos, Transexual não operado

Amada Lepor fotografada por David La Chapelle

A seguir a um dia cansativo no banco, Francisco passou pela casa de Miguel – o seu consorte – para o ir buscar. Iam ambos para o seu apartamento modesto, mas a viagem nunca se concluiu.
Miguel despediu-se da sua mulher, afirmando dirigir-se ao bar com o seu melhor amigo. Esta era uma verdade que a pobre mulher nunca chegaria a imaginar.
A viagem começou mal: Miguel trazia consigo o persa vermelho de um outro amigo, para o irem entregar depois do seu “momento” a dois.
“O que é isso, homem?! Tira-me isso do carro, que o meu nariz cresce que nem uma batata!”
“Cala-te e conduz”, dizia o amante, sabendo que Francisco odiava conduzir.
Depois de uma discussão acesa, Miguel ligou o rádio e ambos prosseguiram a sua viagem. Ocorrera, no entanto, uma fatalidade que Miguel descuidara ao deixar Francisco conduzir: este excitava-se ao som do “Rapper” Eminem!
Incapaz de conduzir devido ao tremendo calor que escorria pela sua – ainda existente – vagina, Francisco viu-se forçado a encostar o Fiat Punto na berma.
“Miguel, faz-me um minete...!” – exclamou com excitação na voz, como se implorasse...
“Aqui, Francisco?! Com o gato a ver?!”
“Sim, Miguel... vá lá...”
E lá começaram, antes do previsto: Francisco prontamente arrancou as suas calças do corpo e Miguel “enfiou-lhe” os dedos que tinha disponíveis, de seguida a língua e tudo o que podia “enfiar”, num frenesim badalhoco que, no fim, dava prazer a ambos. Rapidamente os dois homens moveram-se para o banco de trás.
Miguel abusava da vagina de Francisco e este, aproveitando um brinquedo que guardava religiosamente no porta-luvas, penetrava Miguel. Ambos gemiam num mar de suor masculino, com as pilas - a verdadeira e a falsa - já molhadas e coladas ao corpo - ambos rumo ao auge.
“Asfixia-me”, Implorou Francisco
“Com o quê?!”, perguntou Miguel, que não podia usar as mãos – deixaria marcas. Ambos olharam com um sorriso semi-maquiavélico, semi-perverso para o gato do amigo que apenas se limitou a miar.
Miguel segurou o bichano e “enfiou-o” na cara de Francisco, enquanto penetrava a sua vagina.
Finalmente, ambos os homens chegaram ao orgasmo: Miguel veio-se triunfantemente e Francisco encontrava-se desorientado no meio de um extâse incrível – Missão cumprida: só faltava o tareco que, agora excitado, rapidamente fez o serviço na perna do transsexual. Francisco não precisaria de comprimidos para dormir à noite...

sexta-feira, 4 de março de 2011

O colar de pérolas

Aquele dia era igual aos outros. Todos os dias a via passar, ora para um lado, ora para o outro, com o seu ar profissional e inabalável onde nada falhava.

Aquele dia não foi excepção. Lá passou ela, com o seu vestido justo, sóbrio e sério mas que deixava ou ver ou imaginar todos os contornos do seu corpo. E que contornos de perder a concentração! O decote no ponto certo, as meias de vidro e o colar de pérolas vermelho que, por distracção, ou quem sabe, de propósito, lhe entrava naquele declive por dentro do vestido. Mas porque faria ela aquilo?! Ficava louco! Só lhe apetecia levantar-se, correr atrás dela e tirar-lhe, não o colar de dentro do vestido mas o vestido de fora do colar.

Transpirava cada vez que ela passava. E só voltando a esconder os olhos por dentro dos óculos e focando perto em vez de focar a meia distância começava a sentir o seu corpo arrefecer e desdivagar no corpo daquela mulher escultural.

A safada sabia. Espreitava-lhe o olhar desorientado cada vez que passava. Media milimetricamente o desencontro dos seus olhares. Olhava-o apenas quando ele desistia e voltava a pousar o seu olhar naquele ecrã monocórdico e monocromático. E ele não sabia. Não sabia que, na realidade ela passava ali sempre de propósito. Sabia-lhe bem sentir aquele olhar roçar-se nela. Gostava de pensar que um dia se encontrariam fora dali e que, um dia, quem sabe, se despiriam sem só com o olhar…

quinta-feira, 3 de março de 2011

Cinema Paraíso

Um beijo. Dois beijos.

Um beijo são mil coisas.

Dois beijos

São duas mil coisas

Ou então não são nada

Ou são apenas

Um beijo e outro beijo.

Um abraço.

Um abraço

Pode ser um xi-coração

Pode ser muito

Pouco ou nada

Quase sempre um gosto de ti.

Um abraço e um beijo

Podem ser cem mil coisas

Ou então sem mil coisas.

Pode ser ou não ser

Ser tudo ou não ser nada.

Dormir.

Pode ser um sono

Pode ser um sonho

Ou uma insónia

Ou um pesadelo.

Beijaste-me.

Abraçaste-me.

Dormiste comigo.

Dormiste em mim.

E o que é?

O que foi afinal?

Não faço ideia!

Mas foi assim!

quarta-feira, 2 de março de 2011

Asdrubal

O circo de Asdrúbal chegara nessa noite àquela pequena vila piscatória. O espectáculo era só amanhã mas começava já hoje. Enquanto se montavam tendas e barracas, Asdrúbal já pensava noutras montarias.

Guiado pelos cheiros e pelos ruídos surdos ou talvez simplesmente pelo seu talento em descobrir rabo de saia, lá foi parar ao que seria o bar mais in lá da zona.

Entrou com ar de rei na barriga, que é como diz com ar de “Querida, cheguei!!!”, dirigiu-se ao balcão e rodou os olhos pela sala. Pediu um whisky velho e, com ele na mão direita e mão esquerda no bolso, foi ter com a louraça lá do canto que fumava um cigarro no canto da boca.

Fez ar de pintas, franziu um sobrolho e espremeu uma espécie de sorriso por meia boca fora.

Ela leu-lhe a figura, o desejo e o tamanho do amontoado ali na zona da braguilha. “30 minutos, 50 euros”, disse-lhe. “É o preço de época baixa, estamos em saldos”.

Como quem cala consente e apenas silêncio se ouviu da boca de Asdrúbal, a louraça levantou‑se, entrou no corredor e ele seguiu-lhe a silhueta.

A porta trancou-se e destrancou-se a fera. O leão eriçou-se e soltou o cabelo, empurrou a louraça para cima da cama e atirou-se-lhe como se sobre a sua presa se lançasse. Já desceu as calças e de um só lanço lhe desprende os botões da blusa, lhe sobe a saia e lhe arranca as cuecas.

Afoga-lhe a cabeça no peito e sem dó nem piedade nem pingo de respeito ou meiguice enfia‑se-lhe desenfreada e desesperadamente. E numa cadência rápida e atabalhoada, uma busca atrapalhada de algo que desconhece mas não está ali.

Já está, já explodiu. Mas Asbrúbal só sente o vazio…

É que Asdrúbal é trapezista… mas ele queria mesmo era ser domador de leões…