terça-feira, 13 de abril de 2010

Aconteceu num elevador

Quando ele entrou no elevador a sua ideia era ir beber um café ao centro comercial que existia no sopé da torre de escritórios onde trabalhava. A rapariga de cabelos curtos e olhos claros, saia muito curta, camisa semitransparente, longas pernas, lábios cheios, sandálias de salto alto e fino, entrou uns momentos antes das portas se fecharem e ele pensou “ quem será?” Trabalhará aqui, como eu? Pela falta de carteira deve trabalhar e vai... sei lá onde é que ela vai...muito eu gosto de especular.”
No 19º piso, uma família grande, gorda, numerosa e barulhenta, mas onde só havia mulheres e crianças, empurrou-os um de encontro ao outro.
Olharam-se e sorriram como que a pedir desculpa.
Mas a família numerosa e gorda mexe-se muito, fala muito. Zangam-se por causa de um menino gordo, que quer comida. A, talvez mãe, dá-lhe, ou prepara-se para lhe dar... qualquer coisa que a obriga a tentar abrir o saco que tem pendurado no ombro. A avó ralha-lhe e empurrara-a para a obrigar a fechar o saco. De gesto em gesto... empurrão em empurrão, acabam por os atirar, de novo, um contra o outro.
Agora pedem mesmo desculpa... e sorriem: Os dois corpos encostam-se. Ele sente-lhe o calor... há um seio que lhe atormenta o antebraço. A blusa dela é fina... Ele tem as mangas da camisa levemente arregaçadas. O seio é morno, tenso... Ela não tem soutien. Ele olha-a, com que a perguntar... Ela cora, diz qualquer coisa, que a família gorda, grande e ruidosa não deixa ouvir, mas o calor da pele dela afaga-o.
Mais uns gritos da família grande, gorda e barulhenta, mais uns empurrões. O calor no elevador aumenta, a família grande, gorda e barulhenta parece aumentar também. Há uma menina pequena, gorda e barulhenta, de trancinhas que chora, porque um menino gordo de sorriso alarve lhas puxa com força.
Ao fundo, ao canto, eles encostam-se mais... talvez para fugir à família grande, gorda, barulhenta e numerosa, ou talvez não. Olham-se... Ele sente a respiração dela afagar-lhe o pescoço, que a camisa aberta deixa destapado... O menino gordo puxa mais...as tranças da menina gorda que chora. Ela fita-lhe os lábios e aproxima-se mais, sente-lhe o calor... A respiração torna-se mais rápida. A menina das trancinhas grita mais... A mão dela pousa suave no peito dele, entreabre os lábios, mostra uma língua rosada que acaricia os dentes, brancos e certos... Ele tem um arrepio... sem saber como roçam-se... voluntariamente. A família grande, gorda, barulhenta e numerosa, só com mulheres e crianças agita-se, parece crescer, empurra-os... a mão dele caminha por debaixo da saia dela e encontra as cuecas molhadas. Rápido, afasta-as, e os seus dedos tocam-lhe o sexo... Ela encolhe-se mas os seus olhos velam-se entregando-se ao prazer daquele toque... e a mão procura o corpo dele... e a família grande, gorda e numerosa ameaça o menino do riso alarve, gritando aquela que parece ser a avó “larga já as tranças da Céuzinha ou levas uma carga de porrada quando chegarmos lá fora” E o menino alarve ri e puxa mais... E a menina das trancinhas grita mais. E a mão dela encontra o volume duro que parece palpitar dentro das calças dele... E os dedos dele martirizam-lhe, docemente, o sexo... E ela respira mais fundo... E ele fecha os olhos... e esquecem o elevador que acaba de parar. E esquecem a menina das tranças que chora, e o menino do riso alarve que já não ri porque a mão da mãe... ou de uma qualquer tia, prima, ou lá o que seja lhe assentou um pesado bofetão que lhe apagou o sorriso... e a porta do elevador não abre... e ela mexe-se e ele mexe-se... e o orgasmo apanha-os de surpresa... e gritam. Um grito de prazer, de libertação... um espasmo... um odor que enche o ar, da cabina do elevador... sobreaquecido.
Cai um silêncio... a família grande, gorda, barulhenta e numerosa pára! Olha...No pequeno espaço do elevador abre-se uma clareira, onde eles são centro, agarrados um ao outro, com as mãos em sítios proibidos... E sentem o olhar, primeiro interrogativo, depois acusador, condenatório finalmente, da família grande, gorda, barulhenta e numerosa quando as mulheres perceberam, ou pensaram ter percebido, o que se passara.
E foi a menina das trancinhas quem alertou para o sucedido:
-Eles fizeram “xi-xi” – e o dedinho insuportavelmente gordo a apontar para os dois, ou melhor para a mancha escura nas calças dele e para as coxas dela que, a saia curta deixava bem visíveis, onde um liquido brilhante escorria para o chão.
E a família grande, gorda, barulhenta e numerosa onde só havia mulheres e crianças, agora silenciosa, recuperou a sua índole barulhenta e num tropel desordenado saiu do elevador.
-Porcalhões – atirou a avó – há aqui crianças!
-Cabra, depravada, porca! – Gritou a mãe da menina das trancinhas
- Vaca! – Lhe chamou a que parecia ser mãe do menino de riso alarve que já se perdia na entrada do centro comercial.
Ao fundo do elevador, agora vazio, eles viram as portas fecharem-se e olharam-se sem saberem o que dizer... ou fazer... mas nas suas faces havia um misto de espanto e satisfação, que nem um nem outro conseguiriam alguma vez explicar nos anos de vida que lhes restavam e que seriam muitos.

Lisboa 13 de Abril de 2010
JAVS