sexta-feira, 28 de maio de 2010

Chá e muita Simpatia

Eduardo não gostava de ir às longas visitas em casa da tia Briolanja. Por isso, um dia, ele pediu-me para o acompanhar.
Nunca namorámos verdadeiramente. Éramos uma espécie de objets de plaisir um do outro e tínhamos uma intimidade sensual e infantil.
A tia era uma senhora majestosa com uma meticulosidade muito própria em todos os rituais sociais, o que requeria tempo, disponibilidade e paciência. Fazer-lhe uma visita implicava longas esperas, circunlóquios e divagações, o que poderia durar horas.
Durante todo o caminho para casa da tia, Eduardo e eu íamo-nos provocando mutuamente.
Ele tentava passar-me rasteiras… ou escondia-se entre as árvores das alamedas desertas para aparecer inesperadamente um pouco mais à frente.... ou imobilizava-me de encontro às paredes de ruelas obscuras para meter a mão debaixo da saia do meu vestido de algodão, beijar-me o pescoço e acariciar-me o clitóris com um dedo hábil e insistente.
Eu fazia-lhe cócegas, abria-lhe a braguilha, passando a mão pelo membro rijo que espreitava e fugia a seguir, tentando escapar em vão às suas mãos e às retaliações lúbricas que ele me infligia e que, por vezes, me iam provocando pequenos orgasmos.
Finalmente chegámos a um palacete rosa e branco de dois pisos e tocámos ao sininho de entrada. Durante os dez minutos de espera, encostados a uma árvore frondosa do passeio, praticámos toda uma série de linguados. Ele apalpava-me os seios e eu enterrava as mãos por entre as calças rumo às nádegas que se contorciam. Felizmente ninguém passou na rua, porque seríamos certamente presos por atentado à moral pública.
Ao ouvirmos a porta abrir, parámos subitamente e com a compostura descarada habitual, Eduardo saudou Emília, a rapariga de serviço e beijou a tia no rosto. Apresentou-me como uma amiga de longa data e eu fui cumprimentada com dois beijos dados no ar.
A tia Briolanja caminhava auxiliada por uma bengala de homem com castão de prata e no todo parecia uma personagem parada no tempo, algures nos anos 30 ou 40. Usava um vestido em seda lilás com um corte impecável e os cabelos eram branco prata, ligeiramente ondulados, presos atrás com uma travessa em tartaruga. O que mais me fascinou foi o colar de pérolas que usava nesse dia, de várias voltas e rematado com um fecho onde reluzia uma água marinha. Não sei porquê mas imaginei-a jovem e nua no meio de um boudoir, usando apenas aquela jóia e posando para alguém depois de uma sessão de sexo tórrido, secreto e silencioso numa casa insuspeita, repleta de gente bem comportada e vigilante.
Na sala profusamente decorada como um postal de Natal da época vitoriana, Eduardo e eu fomos sentados num sofá de brocado de cetim cinza com apliques florais em veludo (uma combinação inusitada mas de bom gosto, pensei eu).
À frente do sofá estava a mesinha de chá com as chávenas de porcelana, um prato com pastéis de nata e um outro com um bolo pequeno e redondo coberto de creme moca polvilhado de confetis de açúcar coloridos.
Eduardo sabia que eu gostava de bolos com creme e tinha o hábito de me lamber a boca quando eu estava a comer um. Ao ver a mesa posta sorriu de relance para mim e passou a língua pelos lábios. Eu desviei o rosto, temendo rir-me com a careta dele e ter de dar explicações.
Sentámo-nos no sofá ao mesmo tempo que o relógio da lareira, com um fauno perseguindo uma Flora em bronze, assinalava as 16.30.
Depois de ter conversado alguns minutos connosco, a tia Briolanja levantou-se e disse que ia ver se o chá já estava pronto. Referiu, desculpando-se, que teria de ir verificar pessoalmente se tudo estava a correr bem porque Emília não sabia medir quantidades, nem verificar a abertura das folhas.
Assim que saiu e fechou a porta, Eduardo começou a fazer-me cócegas.
Eu não consegui controlar o riso.
Tentei fugir das suas mãos, desequilibrei-me e caí.
Levantei-me e ele ajoelhou-se aos meus pés, pegou na faca do bolo e retirou com ela um pouco de creme.
Olhou para mim com os olhos brilhantes, em suspense.
Deixei-o levantar-me a saia, baixar as cuecas, barrar-me um pouco da nádega direita com o creme e lambê-lo. As suas mãos enterravam-se nas minhas coxas, o contacto da sua língua em carícias espiraladas era agradável e eu deixei-me bajoujar por ela perante o olhar de um velho vetusto de bigode retorcido pintado a óleo e pendurado na parede.
Gostaria de ter sido penetrada naquela altura, mas tivemos de parar porque começámos a ouvir passos no corredor. O soalho de madeira com caixa de ar em baixo permitia dar conta de todas as aproximações, por mais subtis que fossem.
Ele sentou-se repentinamente para disfarçar a erecção que despontava das calças e eu fingi ver o relógio da Flora e do fauno, com os braços cruzados para disfarçar, simultaneamente, a minha perturbação e os mamilos rijos que despontavam como se fossem de pedra (nesse dia eu não trazia sutiã e o vestido era implacável na modelagem das formas).
Felizmente a tia Briolanja não reparou (ou pelo menos fingiu não ter reparado) que o bolo tinha sido profanado. Emília serviu o chá, saiu e seguiu-se a tradicional conversa entre pessoas de família sobre pais, irmãos, estudos. Depois vieram as recordações e, a propósito de qualquer episódio da infância de Eduardo, a tia lembrou-se que tinha no quarto alguns álbuns com fotografias que gostaria de lhe mostrar e insistiu em ir buscá-los.
Seguiu-se uma nova ausência.
Eduardo abriu as pernas com um sorriso obsceno e as suas calças mostravam que a erecção ainda não tinha passado. Estendi a minha mão e acariciei-lhe a protuberância.
Num ímpeto ele meteu as mãos entre as minhas pernas e finalmente, olhando-nos mutuamente olhos nos olhos, consegui libertar o orgasmo que ficara em suspenso uns momentos antes.
Ele abriu o fecho, retirou o pénis e roçou-o pela minha perna nua.
Eu peguei num pastel de nata e mergulhei-o na sua ponta, rodando-o várias vezes até espalhar bem o creme. Depois lambi-o e chupei-o lentamente. Eduardo fechou os olhos e soltava pequenos gemidos à medida que a excitação ia aumentando. Quando ele estava quase a vir-se, ouvimos novamente os passos que se aproximavam. Atabalhoadamente, ele escondeu o pénis debaixo do pullover de gola em bico aos losangos, os olhos nublados pela excitação não satisfeita.
A tia Briolanja entrou com dois álbuns enormes e pediu ajuda a Eduardo para a ajudar a pô-los na mesa.
Eduardo ficou em pânico e eu segredei-lhe:
- Levanta-te Eduardo, vai ajudar a tiazinha a pôr os álbuns na mesa…
Ele olhou para mim com um ar de mártir pronto a ser atirado aos leões (foi a única vez na vida que o vi vulnerável) e eu abafei uma gargalhada perante o cenário que se avizinhava: Eduardo, com um ar de beto que não parte um prato, a levantar-se com o pénis erecto escondido no pullover e a tia soltar um gritinho e exclamar:
- Ai Eduardinho, que tens? Estás doentinho?
No entanto, a minha alma benevolente falou mais alto e eu levantei-me a tempo de ajudar a velha senhora e, por acréscimo, salvar a honra de Eduardo. Enquanto isto se passava, Eduardo precipitou-se para a casa de banho e voltou depois mais calmo e a visita decorreu normalmente, sem mais percalços eróticos.
À saída, a tia perguntou-me se eu não apreciava pastéis de nata. Tinha-se apercebido da massa esvaziada no meu prato. Eu respondi-lhe que apreciava mais o recheio. Ela respondeu:
- Ai sim? Eu também!
E sorriu-me.
Foi assim que ficámos amigas a partir daí.