quinta-feira, 8 de agosto de 2013

A cama parecia o deserto



Dizer adeus é emotivo e atulhado de expectativas tristes. Tristeza ou saudade, palavras distintas que se aliam tantas vezes.
Esta despedida teve o intuito de desapego com a certeza de deixar saudade. Encontramo-nos no Motel de sempre, no mesmo quarto, na cama redonda onde sempre gostamos de dormir após o sexo: Estoirados, suados e felizes. Dois amantes que permanentemente dormiram em conchinha. Os espelhos no tecto trazem-me à imagem as ocasiões mais selvagens. A música romântica a parte mais pirosa que nos deixou, estranhamente, comovidos de hora em quando. No jacuzzi, onde roubamos litros de água egoisticamente ao planeta, souberam-nos aos melhores momentos de silêncio a dois. O varão à frente do leito, as luzes empolgantes, os acessórios disponíveis e o champanhe rasca exultaram perduravelmente o instante.
Dois anos de álibis e jogos escondidos arruinaram a minha sanidade mental. Eduardo sempre foi mais frio: Ter uma mulher em casa a tempo inteiro e outra para uma noite por semana era-lhe excepcional.
Mantive-me fiel àquela infidelidade tendo outros casos de cama, apenas para encher o ego e garantir que Eduardo era somente um capricho.
A despedida não foi aceite mas respeitada. Talvez ele não acreditasse na despedida. Porém, teve a certeza ao olhar-me nos olhos. Senti a sua tensão e, porque não, fragilidade.
Restavam-nos duas noites. Depois, o motel perder-se-ia na humidade de Sintra tal casa de fantasmas.
Senti-lhe na língua toda a testosterona pronta a apoderar-se de mim. Palavras doces ao ouvido misturadas com outras porcas promoveram um peito espetado e ao contorcer do corpo. Lambeu-me a vagina com uma cobiça voraz. Agarrei-me aos lençóis da cama a fim de não me vir. Trocamos de posições, enchi-me dele, a minha boca mais elástica e a língua, tal serpente, era sedutora aos seus olhos e fazia toques certeiros que o desconcertavam. Beijámo-nos até ficar de face escoriada. A cama redonda transformou-nos nos ponteiros de um relógio que funcionou, sem clemência, durante 48 horas. A penetração aconteceu nas várias oportunidades e a minha vulva já tão assada nem sentia dor, pelo contrário, vibrava. O cheiro era intenso e afrodisíaco. Fumei talvez 5 cigarros naquele tempo. Não me lembro de comer, beber, sair da cama. Emagrecemos ali escorregados em fluídos.
O relógio parou.
De mãos dadas olhamo-nos cadavéricos pelo espelho. Apeteceu-me morrer ali. Desidratada. E a cama que durante dois anos tanto nos apoiou parecia agora um deserto.
M.L.M.