
Dizer adeus é emotivo e atulhado de
expectativas tristes. Tristeza ou saudade, palavras distintas que se aliam
tantas vezes.
Esta despedida teve o intuito de desapego
com a certeza de deixar saudade. Encontramo-nos no Motel de sempre, no mesmo
quarto, na cama redonda onde sempre gostamos de dormir após o sexo: Estoirados,
suados e felizes. Dois amantes que permanentemente dormiram em conchinha. Os
espelhos no tecto trazem-me à imagem as ocasiões mais selvagens. A música
romântica a parte mais pirosa que nos deixou, estranhamente, comovidos de hora
em quando. No jacuzzi, onde roubamos litros de água egoisticamente ao planeta,
souberam-nos aos melhores momentos de silêncio a dois. O varão à frente do leito,
as luzes empolgantes, os acessórios disponíveis e o champanhe rasca exultaram perduravelmente
o instante.
Dois anos de álibis e jogos escondidos
arruinaram a minha sanidade mental. Eduardo sempre foi mais frio: Ter uma
mulher em casa a tempo inteiro e outra para uma noite por semana era-lhe
excepcional.
Mantive-me fiel àquela infidelidade
tendo outros casos de cama, apenas para encher o ego e garantir que Eduardo era
somente um capricho.
A despedida não foi aceite mas
respeitada. Talvez ele não acreditasse na despedida. Porém, teve a certeza ao
olhar-me nos olhos. Senti a sua tensão e, porque não, fragilidade.
Restavam-nos duas noites. Depois, o
motel perder-se-ia na humidade de Sintra tal casa de fantasmas.
Senti-lhe na língua toda a
testosterona pronta a apoderar-se de mim. Palavras doces ao ouvido misturadas
com outras porcas promoveram um peito espetado e ao contorcer do corpo.
Lambeu-me a vagina com uma cobiça voraz. Agarrei-me aos lençóis da cama a fim
de não me vir. Trocamos de posições, enchi-me dele, a minha boca mais elástica
e a língua, tal serpente, era sedutora aos seus olhos e fazia toques certeiros
que o desconcertavam. Beijámo-nos até ficar de face escoriada. A cama redonda transformou-nos
nos ponteiros de um relógio que funcionou, sem clemência, durante 48 horas. A
penetração aconteceu nas várias oportunidades e a minha vulva já tão assada nem
sentia dor, pelo contrário, vibrava. O cheiro era intenso e afrodisíaco. Fumei
talvez 5 cigarros naquele tempo. Não me lembro de comer, beber, sair da cama.
Emagrecemos ali escorregados em fluídos.
O relógio parou.
De mãos dadas olhamo-nos cadavéricos pelo
espelho. Apeteceu-me morrer ali. Desidratada. E a cama que durante dois anos
tanto nos apoiou parecia agora um deserto.
M.L.M.