quarta-feira, 24 de julho de 2013

Uma mulher roliça de pés pequenos

O António estava sentado como de costume no banco do Parque Eduardo VII – digo o e não um banco, porque escolhia sempre o mesmo banco, aquele em frente ao campo de ténis. Como era de seu hábito, mantinha-se sentado de pernas e braços abertos, esquecido de si mesmo, mas atraído por qualquer movimento exterior a si, principalmente se o que mexia eram ancas e pernas gordas. O António raramente diz um ai. Quando muito, deixa cair o queixo, mostrando o espanto a sair de fininho pelos cantos da boca. E não foi exceção quando viu passar aquela mulher, que apesar de ter todo o ar de ser estrangeira, descia o parque com a pressa de alguém que vai trabalhar. Tinha um ar determinado, o nariz arrebitado, feições grossas, mas considerando o resto do corpo ela era aos olhos do António boa. O que mais lhe despertou a atenção foi a pequenez dos pés dela, conjugada com a largura das ancas e das nádegas gordas. Com a passada rápida tudo nela dançava. E ele imaginava que em qualquer momento aquela mulher de pés pequenos iria perder o equilíbrio e cair de quatro no chão. E, então, ele saltaria para cima dela como se ela fosse uma piscina ou um poço sem fundo, mergulhando de cabeça até entrar completamente. E com essa ideia sentia o corpo estremecer e, sem se aperceber, o António estava numa posição ereta, muito direito, muito esticado e teso, rodando apenas a cabeça e levando os olhos até onde podia.
No entanto, não foram necessários dois minutos para aquele mulher sair do seu campo de visão, tal era a pressa com que descia o parque. E o António ali ficou estático, congelado por um tempo indeterminado.
A.C.