quarta-feira, 17 de julho de 2013


A tarde estava fresca, tal como todas as outras, algo que a entediava solenemente; já há muito que se devia ter mudado, detestava aquele clima. Todavia, a companhia era agradável, não se podia queixar da vizinhança. A vizinhança.... Ah...... Só ela sabia como era reconfortante poder vê-lo todas as tardes a passear dentre quem passa, que moribundos, o não vêem. Se ao menos ele soubesse da sua existência...
Devaneios.......
Todavia, esta tarde tivera um início diferente. Pela primeira vez, aquele para quem se julgava invisível, olhara de forma intensa para si, ou melhor, não olhara. Não!!! Muito pelo contrário, vira! Comera!! Abocanhara!!! O seu coração frágil ficou num alvoroço, ao ver que ele se aprochega e, amistosamente, se deixa ficar a seu lado sem nada dizer. Apenas permanece ali, como se para a eternidade fosse ficar. Será que ele repara nas marcas de tantos anos passados??? Se as olha, não as vê, pois num gesto vagaroso as acaricia e o seu aconchego excita-a, avassaladoramente. É-lhe difícil controlar há tanto guardado. Mas nada o parece deter, aos poucos as suas carícias tornam-se mais vigorosas, cadenciadas. E sem pedir licença, monta-se nela sem qualquer pudor e mundo todo desaba sobre ela num imenso prazer.
Assim como o começa o acaba.
Assim como veio se afasta, indiferente.
Beatriz Portugal