segunda-feira, 8 de julho de 2013

A Marilyn

– A Joana?
– Está na sala dos espelhos.
– Algum cliente?
– É uma cena de grupo, acho eu. O Jorge acha-a desinibida nessas coisas.
– Queres mais vinho?
– Sim. Já fizeste lá alguma sessão?
– Só de Marilyn. Tu sabes como é. Peruca loira, vestido branco, ventoinha ligada, a dançar devagar, sensual, saia a voar.
– Sei, sei. E deixares ver as cuecas de vez em quando.
– É um showzinho fraquinho, não achas?
– Talvez... depende do público.
– Já alguma vez fizeste mais do que deixar ver as cuecas? Estás-te a rir. Safada! Imagino que sim. Conta-me.
– Uma vez, estava eu a baixar e a subir as ancas, de pernas abertas, viam-se as cuecas, que nem sequer eram rendadas, e fazia aquilo de um modo mecânico, rotineiro, sem pensar muito no que estava a fazer. Mas, de repente, dei por mim a olhar para o teto e comecei a reparar no meu reflexo através dos espelhos. A cabeleira loira encaracolada, a abanar, o largo decote que deixava ver os meus seios almofadados e depois comecei a estar atenta aos meus movimentos redondos e cheios.
– Não me digas que te apaixonaste por ti mesma?
– Nem sei, foi aquela coisa do momento. Os movimentos cada vez mais sensuais e eu estava vidrada em mim, espantada, sei lá...
– Queres mais?
– Sim.
– Não me digas que te despiste?
– Olha, não te sei explicar o que aconteceu. Estava ali, meia hipnotizada, com o que via no reflexo dos espelhos do teto, das paredes e desliguei de quem me observava, da sala, do lugar, do tempo. Olhava para mim e sentia-me embriagada sem álcool nenhum, só com aqueles movimentos, pelo meu próprio corpo, se calhar pela brisa da ventoinha, pela música, e eu dançava e baixava-me e levantava-me e contorcia-me lentamente, esticando as pernas, ondulando os braços e enrolando a barriga. Quando me apercebi já me estava a tocar nas pernas, entre as pernas, nos seios e no pescoço e a roupa começava a pesar-me e despi-me.
– …
– Agradava-me o que via, sei lá. O meu corpo, os meus seios espetados, tal era a excitação, projetados nas paredes, no teto, a minha cintura ondulante. Estive não sei quanto tempo nesta dança, esquecida de tudo e de todos, de que era só trabalho e nem precisava de ir tão longe. Apenas tinha de ser Marilyn, bonita e estonteante.
– E o que é que aconteceu?
– De repente, estava deitada na cama da sala ao lado e continuava de tal modo louca com tudo, tocava-me, gemia. Fi-lo de olhos abertos e sei que algumas pessoas saíram da sala, incomodadas, outras ficaram. Despi-me por completo e senti necessidade de provocar os meus restantes espetadores com a língua, com os olhos, com os meus gemidos, com o meu desespero por mim mesma. E houve quem quisesse apenas ver e houve quem quisesse participar. Senti mãos pelo meu corpo todo e senti pilas baterem-me na cara, no fundo das costas, nas mamas. De início, continuava obcecada comigo mesmo, mas, quando me apercebi, já tinha a boca cheia, a vagina cheia, o rabo cheio e balançava ao ritmo de quemme levava, alucinante.  Lembro-me da música que passava naquele momento, era Morcheeba, “Trigger Hippie”. Puxavam-me a cabeça, para baixo e para cima e para baixo e para cima e era como se eu fosse... não sei quantas pilas chupei?! Lambia e engolia as que passavam na minha boca, enquanto me sentia penetrada na vagina, no rabo, sentia-as nas minhas mamas. Sei que nunca nenhuma ficou o tempo suficiente para que me viesse e, no entanto, toda eu vibrava de prazer, num tal êxtase e comecei a tocar-me com um certo desespero de me vir e assim perder-me completamente naquele estado. Toquei-me como se estivesse sozinha e, à medida que fui chegando onde queria, fui ignorando as pilas à minha volta. Tocava-me e sentia-me quente, a escaldar, as minhas pernas a vibrar e havia quem me lambesse e havia quem me chupasse em baixo, no meio e em cima. Não via nada, tinha os olhos fechados. Sentia de vez em quando pilas roçarem-me na boca, mas por essa altura mordia os lábios e estava impenetrável. Pouco depois explodi em ondas de prazer, quentes, altas, a sacudirem-me o corpo todo e a arrepiarem-me os cabelos. Senti a minha cara contorcer-se, os olhos a fecharem-se com força e pouco depois jorros de líquidos por todos os lados que me caiam na cara, nas mamas, no rabo, na vagina. Quando abri os olhos estava empapada num misto de suor e esperma e saliva. À minha frente apenas restava o Jorge, que me olhava com uma tal raiva e desilusão. Devia estar furioso, por ter sido tão barata, gratuita, sem o consentimento dele. Atirou-me com o vestido da Marilyn à cara e mandoume para casa. Depois disso, a pensão teve muito mais clientela, clientela de outro tipo, que perguntava pela mítica Marilyn. Eu só regressei um mês depois. Ninguém te contou a história?

Ana C