quarta-feira, 10 de julho de 2013

Vontade desmedida


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Tento contrariar, no entanto não consigo ser indiferente a este odor fresco mas quente que vem das minhas costas e me encaminha os sentidos á medida que percorres suavemente o piso de madeira encerada desta sala. Como se conhecesses os locais onde o chão pode ranger, deslizas, segura e ligeira, num espaço que é indubitavelmente teu, e como se emanasses um qualquer brilho - diferente da luz matinal que nos obriga a semicerrar os olhos… - a minha atenção é direccionada para o teu corpo de mulher com jeito de menina que está empoleirado sobre a estante, apesar de teres um escadote um pouco mais á frente para arrumar 1 livro na secção de… literatura erótica!?…Hummm! Com o cabelo apanhado num carrapito, apoiada apenas no pé esquerdo e o braço direito esticado, a camisa, apesar de entalada, sobe e desvenda uma pele pálida onde imagino imediatamente a minha mão escorregar, quente. A saia sobe ligeiramente e já te agarrei contra a estante. Num gesto rápido, levanto-te a perna que coloco á volta da minha cintura e deliciado observo o cair do cabelo castanho, comprido, liso sobre os ombros. Os óculos desacertados no rosto. Com vida no olhar, agarras-me o cabelo com determinação e num beijo só, afundo a minha cara e percorro o teu corpo desde o pescoço até…
- Caramba! Mas afinal que se passa comigo?
Volto ao meu livro. Lembro-me porque estou ali e retomo a leitura mas… já há algo em mim igualmente desperto. Levanto o olhar do meu sexo na tua direcção e… agarro-te por trás! Faço a minha mão escorregar entre as nádegas, puxo-te o cabelo com mestria suficiente para não te magoar e entregue deixas cair a cabeça na minha direcção, inebriada, lambes-me os dedos que delicadamente faço deslizar dentro da saia e com a palma da mão encostada ao ventre sigo e afasto-te as cuecas.
- Não se importa de desligar o telemóvel?
- Merda!!! Coloquei no silêncio mas está a vibrar! Recuso a chamada e desfaço-me em desculpas como se a senhora de vestido às bolinhas, cabelo branco apanhado também num carrapito, óculos na ponta do nariz e mãos visivelmente gastas pela vida, tivesse lido os meus pensamentos. Há quanto tempo não me deixo levar pelo instinto, pelo desejo animal de possuir, de literalmente dar uma valente queca sem constrangimentos de qualquer espécie? A sala está praticamente vazia, para além de mim e desta senhora que não estava cá quando cheguei, está um miúdo de portátil rodeado de pilhas de livros e uma rapariga sem graça á sua frente; na mesa do fundo, nas minhas costas, outra rapariga dos seus 20 anos com phones nos ouvidos. Imagino Uma possibilidade de nos podermos esconder entre estantes e fazermos ali mesmo, num silêncio imposto pelo espaço. Levanto-me decidido na tua direcção mas imediatamente dou meia volta porque não tenho a mais pequena ideia de como te vou abordar, ou melhor, ideias não me faltam mas arrisco-me a ser expulso e acusado de atentado ao pudor. Sento-me. Olho á minha volta e a minha “vizinha” de vestido ás bolinhas lança-me um olhar castrador. Abro o livro numa página qualquer na tentativa de parecer uma pessoa normal e leio. Não passam nem dois segundos e levado por um impulso, rasgo uma folha do bloco de notas da vizinha castradora, que reage assustada e com vontade de me repreender, mas enrolada nuns sons imperceptíveis, desiste e deixando-me sozinho, levanta-se, indignada.
Levanto-me também eu num rompante, faço uma inspiração profunda e sem te olhar nos olhos o meu corpo passa junto ao teu e entrego-te em mão o papel meio amarrotado. Quando olho para trás ainda ocupas o mesmo espaço e olhas-me num misto de dúvida e gozo. Respiro fundo e sigo para a saída, já sem pressa. Lá fora a brisa leve rasga-me o olhar num sorriso cúmplice com a vida. Relembro o que te deixei.

Sentia uma vontade violenta de me desmoronar em ti. Não, não era fazer amor.
Fazer amor não existe, porra, o amor não se faz. O amor desaba sobre nós já feito, não o controlamos.” Inês Pedrosa

SB
não o controlamos.” Inês Pedrosa