(Maplethorpe)
O cheiro a mofo sempre me incomodou. Sempre fui ligada a
cheiros. É, sem dúvida, o meu sentido mais apurado. Registo os cheiros na
memória e não os consigo esquecer. Associo todas as situações relevantes a
cheiros. Aquele quarto tinha uma mistura de cheiros pujantes, todos ligados a
sexo.
Os cortinados de veludo cheiravam a sórdido, a histórias
velhas, a um apego de situações pesadas. A cama de corpo e meio tresandava a
fluídos sexuais intensos e as nódoas dos lençóis- já imunes a lixívia- não
conseguiam enganar nem os mais distraídos. Os pêlos do gato persa velho, além
de marcarem território por todo o minúsculo quarto, farejavam a um voyeurismo
latente. A mesa de madeira acompanhadas pelo felino convidavam a um intimismo
obscuro e cheiravam a segredo.
Aquele era o meu segredo. O meu fetiche preste a ser
realizado. Joaquim cobrou-me 200 euros para concretizar aquilo que me
incentivava muitas vezes a masturbar. Pagar a um homem, a um prostituto para me
dar prazer, era miserável, mas o auto-presente dos meus 40 anos de aniversário.
Não por falta de oferta. Não por falta de autoestima. Apenas
por curiosidade, pela aventura. Por me atrair o desconhecido e, obviamente, por
gostar de sexo.
Estava desconfortável mas não era pessoa de desistir. Era o único
fetiche sexual ainda não realizado. Joaquim era cubano, usava apenas umas
cuecas justas, mas masculinas, que lhe pronunciavam um material de boa
qualidade.
Apresentou-me friamente um leque de preservativos,
lubrificantes, máscaras, algemas, entre outros acessórios.
Ri-me.
“Obrigada. Basta-me um preservativo mas tem de ser sem látex
pois sou alérgica”.
Joaquim riu-se.
“Agora é que me tramaste!”
Abri a minha mala e tirei 2 preservativos já a prever a
situação. Coloquei-lhe na mão.
“Queres colocá-lo tu?”
“Não obrigada. Prefiro que se crie um clima mais simpático e
na hora fazes tu isso, ok?”
“A madame manda.”, respondeu ao som do sotaque latino.
Despiu-me delicadamente ao ruído da música caliente que fazia pandã com a sua
origem.
“Tens um corpo muito bonito, sabes?”
Sorri.
“Pois...também não precisas dizer cenas simpáticas só porque
te estou a pagar”.
“Não. É verdade. Tens. O que me facilita muito o trabalho”.
Beijou-me toda. Acho que não houve um pedaço de pele com
sede de beijo.
A meio de tanta lambida e beijadela libertei-me.
Ele cheirava bem e mexia-se ainda melhor.
Era bonito.
Era bom de tocar.
E olhava-me nos olhos.
Beijou-me na boca. Como um adolescente apaixonado. Quase me
vim.
Fiquei tão molhada que abri as pernas de imediato:
ofereci-me.
“Fode-me, entra em mim”, pedi-lhe em tom de ordem.
Tirou as cuecas e expôs um brutal, teso, brilhante, depilado
e limpo troféu.
Acho que arregalei os olhos e sorri-lhe marotamente.
Agarrou-me com força, como só umas mãos grandes e masculinas
sabem, e enfiou-o todo dentro de mim. Contorci-me fazendo um arco nas costas e
gemi.
Segurei-o pelo cabelo, senti-lhe os pingos de suor a tocarem-me
na pele como pequenas, mas fortes gotas de chuva.
Lambeu-me as mamas. Senti-lhe os dentes sem uma única mordidela.
Senti-lhe as mãos nas costas como se me massajasse toda a
coluna.
Apertou-me as nádegas com vontade, empurrando-me para ele
como se fosse possível entrar ainda mais em mim.
Aquele homem era um mestre. Apoderou-se de mim. Sabia exatamente
os movimentos que me faziam quase vir e aqueles que me faziam quase não me vir.
Condutor à séria. Senti a penetração como nunca. Reconheci-lhe as veias do
pénis, nutri o pau com uma intensidade que jamais imaginei. E pensava eu ser já
tão batida em hastes. Realmente era um profissional.
Disse para me vir quando quisesse. Cruzei as minhas pernas
nas suas costas como se o abraçasse e gemi-lhe ao ouvido: “Vou vir-me...vêm-te
comigo...”
E viemo-nos.
Senti-lhe o esperma a explodir mesmo por de dentro da
camisinha.
Exaltamos sem dúvida 1 Kg de suor em prazer. Senti orgasmos
a pularem um atrás do outro. Até não aguentar mais tal maratona.
Joaquim caiu em cima de mim. Beijou-me mais uma vez. Descolou-me
os cabelos pegados à cara, olhou-me e sorriu.
Desenroscou-se e ali ficamos até acabar o tempo pago. Em
silêncio: a saborear o cheiro a luxúria e a trocar as caricias permitidas entre
estranhos.
M.M.