terça-feira, 9 de março de 2010

O Abraço da Ursa Húngara


«A missa deve estar quase a começar», disse com a voz ainda oscilante. Pegou num lenço de renda preto, cobriu o cabelo e o pescoço e saiu de casa. De facto, o olhar terno e imaculado de Alenka parecia carregar consigo a ideia de um túmulo capaz de guardar os segredos mais íntimos. E ele sabia-o.
Ia tocar à campainha quando reparou que a porta estava entreaberta. «Estás aí? Posso entrar?», sussurrou. «Entra, estou no quarto», respondeu Alenka. Encontrou-a deitada no tapete de pêlo cinzelado, contorcendo o seu corpo franzino, como se o diabo tomasse as rédeas do seu corpo.
Gabor estava ainda de pé, com as calças caídas, quando Alenka lhe engoliu o tronco do pénis, simulando uma penetração comum. Lambia-o para cima e para baixo com a ponta da língua e beijava-lhe a cabeça de frade, imprimindo uma ligeira pressão com os dentes. Subitamente, Alenka abocanhou-lhe a bolsa do escroto, sugando os testículos alternadamente. As ondas eléctricas de prazer que se dispersavam, como faíscas, pelos pontos erógenos do corpo de Gabor incitaram-no a empurrar Alenka para trás e a sentar-se na borda da cama. Por pouco que não se veio. Chamou-a novamente, sem pronunciar uma palavra. Acima de tudo, desejava possui-la, aconchegá-la e assim Alenka poisou as bochechas do rabo no seu colo, sentindo finalmente o pénis duro como o tronco de uma árvore beijar-lhe os lábios e trepar-lhe a vulva. Enlaçou as pernas franzinas à sua cintura, chegando-se a ele o mais possível de forma a tornar a cópula mais intensa. O abraço era activo, suplicava posse, e ela provocava-o, movendo os quadris com brutidão. Os olhos de Alenka estavam fechados, dando asas à imaginação das mãos que acariciavam aquele corpo macio, «cheio de graça». Os seus sexos pareciam soluçar, deitavam lágrimas de prazer.
Os dois pareciam envoltos num duelo recíproco, ele puxando-lhe o cabelo âmbar que, como uma cortina, encobria as auréolas róseas dos seus seios, ela arranhando-lhe as costas largas e transpiradas. O tacto molhado das línguas e dos dentes parecia instigar um braço de ferro cada vez mais inquietante e os corpos fundiam-se numa espiral de sensações erógenas, rendidos à fluidez do outro, sentados no silêncio que ecoava pela casa. A temperatura subia e num impulso, o clímax estalou em infinitas pepitas de ouro.
Enquanto Alenka caminhava para a Igreja, começou a sentir o esperma escorrer-lhe lânguido pelas pernas. Dois miúdos que passavam com a mochila às costas cochicharam qualquer coisa ao ouvido e desataram-se a rir. «Será que tenho a saia molhada?», interrogou-se, atraiçoada pelo carmim das bochechas. Apesar do constrangimento, Alenka orgulhava-se daquela sensação de transgressão, de ousadia, de individualidade, sobretudo. No banco da frente, virada para o altar-mor, inclinou a cabeça e ajoelhou-se perante Deus.